Quando a televisão brasileira fala de suspense, o nome que sai na frente é o da vilã Odete Roitman. O crime de quem a assassinou virou assunto de família, de bar e de reunião de amigos, como se a gente estivesse tentando descobrir um culpado real. O que poucos sabem é que a própria filmagem aconteceu num clima ainda mais carregado de mistério.
O clima de suspense nos bastidores
Na quarta‑feira à noite, o Hotel Copacabana transformou‑se em palco de um dos momentos mais esperados da novela Vale Tudo (1988‑1989). A produção instalou câmeras, luzes e um esquema de segurança digno de filme de ação: portas trancadas, guardas na entrada e contratos de confidencialidade assinados por todos – até o serviço de limpeza.
Beatriz Segall, que viveu Odete com uma elegância fria, chegou ao local vestindo o figurino já marcado pelas marcas de luta interna da personagem. Cada passo era ensaiado, mas a equipe deixava espaço para a naturalidade que faz o suspense parecer real. O diretor, conhecido por sua atenção aos detalhes, exigiu que o ambiente do hotel — luxo contrastando com a violência iminente — fosse capturado sem perder a tensão que o público já sentia.
Enquanto a câmera girava, o elenco se movimentava como peças de um xadrez. O assassino, ainda desconhecido, era mantido em segredo até a última tomada. Até os atores de apoio foram instruídos a não trocar palavras sobre a identidade do culpado. Essa restrição aumentou a ansiedade nos corredores: quem seria o responsável por tirar o último suspiro da vilã?

O legado da cena
Quando o episódio foi ao ar, o Brasil inteiro prendeu a respiração. A pergunta “Quem matou Odete Roitman?” ecoou nas casas, nas rádios e até nas escolas. O efeito foi tão grande que a própria gravação, com todo seu sigilo, entrou para a história da TV como um caso à parte.
Além de consolidar Beatriz Segall como uma das maiores atrizes da teledramaturgia, a morte de Odete mostrou o poder da narrativa bem produzida. O Hotel Copacabana, que normalmente recebe casamentos e eventos corporativos, ficou eternizado como cenário de um crime fictício que se tornou real para a memória coletiva.
Até hoje, jornalistas, historiadores da mídia e fãs de novelas se debruçam sobre aquele dia, analisando cada detalhe do enquadramento, da trilha sonora e da atuação. A cena não foi apenas um ponto de virada na trama de Vale Tudo; foi um marco que provou que o suspense pode ser tão real quanto o próprio drama que acontece na TV.