Jara e Kast vão disputar segundo turno presidencial no Chile em 14 de dezembro de 2025

Jara e Kast vão disputar segundo turno presidencial no Chile em 14 de dezembro de 2025
18/11/25
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Em um dos momentos mais decisivos da história recente do Chile, os eleitores do país sul-americano decidiram, no dia 17 de novembro de 2025, que o próximo presidente será escolhido entre duas figuras que representam polos opostos da sociedade: Jeannette Jara, de 51 anos, e José Antonio Kast, de 59 anos. A disputa será no segundo turno das eleições presidenciais Chile, marcado para 14 de dezembro de 2025. Jara, ex-ministra do Trabalho no governo de Gabriel Boric, venceu o primeiro turno por apenas três pontos percentuais — mas o que parece vitória é, na verdade, um alerta. Os votos da direita, somados, chegaram a 52%. Isso significa que Kast não está apenas na frente: ele tem um exército de eleitores esperando para unir forças atrás dele.

Um país dividido em dois modelos radicais

O primeiro turno não foi apenas uma eleição. Foi um espelho. O Chile — país de 19,5 milhões de habitantes, com capital em Santiago — mostrou que não há mais espaço para o centro. A eleição virou uma batalha entre dois projetos de nação: um baseado em direitos sociais, igualdade e reformas estruturais, e outro centrado em segurança, ordem e controle da imigração. Jara, a primeira candidata comunista desde o fim da ditadura em 1990, representa a coalizão de esquerda que inclui o Partido Comunista do Chile e tem o apoio explícito de Boric. Mas ela não pode contar apenas com os 25% que lhe deram no primeiro turno. Precisa atrair os indecisos, os desiludidos, os que não se identificam com nenhum bloco.

Já Kast, líder do Partido Republicano do Chile, não precisa convencer seus fiéis. Ele os tem. O que precisa agora é expandir. E para isso, já fez o que nenhum candidato da direita chilena fez desde 2021: amolecera seu discurso. Não fala mais abertamente da ditadura de Augusto Pinochet como um modelo — algo que, em 2021, o afastou de muitos eleitores moderados. Agora, ele fala de "ordem pública", "fronteiras seguras" e "família como núcleo da sociedade". É uma linguagem mais suave, mas o conteúdo é o mesmo. O jornal Carta Capital não brinca: "Se Kast vencer, será o primeiro governo de extrema-direita no país desde a ditadura de Pinochet."

A aliança da direita: Kast, Kaiser e Mattei

Após o primeiro turno, Kast não perdeu tempo. Na coletiva de imprensa, recebeu o apoio de Johannes Kaiser, líder de um movimento ultradireitista que foi o quarto colocado, e de Evelyn Mattei, candidata da direita moderada que ficou em quinto. Isso é crucial. Não é só sobre votos. É sobre legitimidade. Quando Kaiser e Mattei endossam Kast, eles não estão apenas dando apoio — estão dizendo aos seus eleitores: "É seguro votar nele." O populista Franco Parisi, que surpreendeu ao ficar em terceiro com 17% dos votos, recusou-se a apoiar qualquer um. Um erro? Talvez. Ou talvez uma jogada calculada para manter sua base viva para 2030.

Essa união da direita é o grande diferencial. Em 2021, Kast perdeu para Boric por pouco — mas naquele ano, a direita estava fragmentada. Agora, não. E enquanto Jara tenta absorver propostas de adversários derrotados — como a ideia de controle migratório mais rígido, sugerida por Parisi — Kast só precisa manter o que já tem. Ele não está construindo. Está consolidando.

Os desafios de Jara: atrair o centro sem perder a alma

Os desafios de Jara: atrair o centro sem perder a alma

Jeannette Jara enfrenta um dilema que nenhum candidato de esquerda na América Latina enfrentou tão diretamente: como conquistar eleitores que não confiam em partidos, mas temem o caos? O Chile vive um período de profunda desilusão com a política. As tentativas de nova constituição falharam. A violência urbana cresceu. A imigração, especialmente da Venezuela e da Haiti, virou tema de campanha — e não de política pública. A candidata comunista precisa dizer: "Sim, há problemas. Mas a solução não é a repressão. É a inclusão."

Ela tem um ativo poderoso: o nome de Boric. Mas também um fardo: a associação com o que muitos veem como um governo ineficaz. A análise do Nexo Jornal é clara: "O primeiro turno resultou em dois modelos radicalmente opostos para o país." Jara não pode ser vista como apenas a herdeira de Boric. Precisa ser a voz de quem quer reconstruir, não apenas manter. E isso exige coragem. Ela precisa falar com os que votaram em Parisi. Com os que se afastaram da esquerda por causa da insegurança. Com os jovens que não acreditam mais em partidos.

Por que isso importa para toda a América Latina

O Chile não é só um país. É um símbolo. Foi o primeiro da região a adotar reformas neoliberais nos anos 1980. Foi o primeiro a se levantar contra elas, em 2019. Foi o primeiro a tentar escrever uma nova constituição por meio de uma assembleia eleita. E agora, pode ser o primeiro a escolher um governo de extrema direita desde a ditadura. Isso não é só uma questão chilena. É uma prova de fogo para toda a América Latina, onde a polarização cresce, os partidos tradicionais enfraquecem e o populismo de direita ganha terreno — mesmo quando se disfarça de moderação.

Se Kast vencer, o mundo verá que o discurso de segurança e ordem pode vencer mesmo em países com forte tradição democrática. Se Jara vencer, será uma vitória da esquerda não só em ideias, mas em estratégia: ela terá unido setores fragmentados, convencido indecisos e derrotado o medo com propostas.

Quem está na linha de frente

Quem está na linha de frente

  • Jeannette Jara: ex-ministra do Trabalho, primeira candidata comunista pós-ditadura, apoiada por Boric e pelo Partido Comunista do Chile.
  • José Antonio Kast: líder do Partido Republicano do Chile, terceira tentativa presidencial, com apoio de Kaiser e Mattei.
  • Gabriel Boric: presidente atual, eleito em 2021, cujo legado está em jogo.
  • Augusto Pinochet: ditador que governou de 1973 a 1990 — o fantasma que assombra a campanha.
  • Franco Parisi: populista que ficou em terceiro e recusou aliança — um fator incerto.

Frequently Asked Questions

Por que o primeiro turno não foi uma vitória clara para Jeannette Jara?

Apesar de vencer por três pontos percentuais, Jara recebeu apenas 25% dos votos, enquanto a direita, somada — incluindo Kast, Kaiser e Mattei — chegou a 52%. Isso significa que, embora ela seja a candidata mais votada, não tem maioria. O segundo turno será uma batalha por eleitores indecisos e por quem votou em candidatos derrotados, como Franco Parisi.

O que mudou na campanha de José Antonio Kast desde 2021?

Kast reduziu drasticamente suas declarações favoráveis à ditadura de Pinochet e adotou um discurso mais focado em segurança pública e imigração, evitando termos ideológicos que afastavam eleitores moderados. Essa moderação tática, aliada ao apoio de outras forças da direita, o torna mais viável para vencer, mesmo que seu núcleo de apoio permaneça inalterado.

Qual é o impacto do apoio de Johannes Kaiser e Evelyn Mattei a Kast?

O apoio de Kaiser, líder ultradireitista, legitima Kast perante os eleitores mais radicais, enquanto o de Mattei, da direita moderada, sinaliza que ele pode governar sem alienar o centro. Juntos, eles ampliam a base eleitoral de Kast, criando uma coalizão de direita que não existia em 2021 — e que pode ser decisiva no segundo turno.

Por que Jeannette Jara precisa atrair eleitores que não são de esquerda?

Com apenas 25% dos votos no primeiro turno, Jara não tem margem para erros. Para vencer, precisa conquistar quem votou em Parisi, quem se afastou da esquerda por causa da insegurança e até quem votou em candidatos de centro. Ela precisa mostrar que sua proposta não é só ideológica, mas prática — e que pode resolver problemas reais sem autoritarismo.

O que está em jogo para a democracia chilena?

Se Kast vencer, será o primeiro governo de extrema-direita desde 1990, marcando uma ruptura com a trajetória pós-ditadura. Se Jara vencer, será a confirmação de que a esquerda pode se reinventar, unir forças e vencer mesmo em um país polarizado. O resultado definirá se o Chile seguirá como modelo de democracia plural ou entrará em uma nova era de confronto ideológico.

Como o resultado do segundo turno pode afetar a América Latina?

O Chile é um termômetro político da região. Um governo de extrema-direita aqui pode inspirar movimentos similares no Peru, Colômbia ou Argentina, onde a desigualdade e a insegurança também crescem. Por outro lado, uma vitória de Jara pode fortalecer a esquerda latino-americana, mostrando que é possível vencer com propostas inclusivas mesmo em tempos de medo.